6 de agosto de 2009

Um pouco mais de Verne...

Abaixo, um diálogo entre o Professor Aronnax e Ned Land, em Vinte Mil Léguas Submarinas:

[...] Admitamos que a pressão de uma atmosfera seja representada pela pressão de uma coluna de água de dez metros de altura. Na realidade, esta coluna teria altura um pouco menor, porque se trata de água do mar, cuja densidade é superior à da água doce. Pois bem, quando se mergulha, sofre-se pressão igual a tantas atmosferas quantas vezes dez metros haja acima do mergulhador. Quer dizer, o corpo suportará pressão igual a tantos quilogramas por centímetro quadrado de superfície quantas sejam as atmosferas a que esteja submetido. Disso decorre que a cem metros esta pressão é de dez atmosferas, e a mil metros é de cem atmosferas. O que equivale a dizer que, se conseguir atingir essa profundidade do oceano, cada centímetro quadrado da superfície do corpo suportará a pressão de cerca de uma tonelada. Ora, sabe quantos centímetros quadrados de superfície tem o corpo humano?

– Não faço a menor idéia.
– Cerca de dezessete mil.
– Tanto assim?
– E, como, na realidade, a pressão atmosférica é um pouco superior ao peso de um quilograma por centímetro quadrado, os dezessete mil centímetros quadrados suportam, nesse momento, pressão de dezessete mil e quinhentos e sessenta e oito quilogramas.
– Sem que se aperceba disso?
– Sem que se aperceba de nada. E, se o mergulhador não é esmagado por tal pressão, é porque o ar penetra no interior do corpo com igual pressão. Daí um equilíbrio perfeito entre o impulso interior e o impulso exterior, que se neutralizam, o que permite suporta-los sem dificuldade. Na água, porém, a coisa é diferente.
– Compreendo – concordou Ned, que se tornara atento –, porque a água cerca, mas não penetra.
– Exatamente. Assim, pois, a dez metros abaixo da superfície do mar sofrer-se-á pressão de dezessete mil, quinhentos e sessenta e oito quilogramas. A mil metros, cem vezes essa pressão, ou seja, dezessete milhões, quinhentos e sessenta e o oito mil quilogramas. Quer dizer que o corpo seria esmagado, como se o colocassem entre pratos de prensa hidráulica!

(Júlio Verne, Vinte Mil Léguas Submarinas)
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